A doutrina da aliança é uma importantíssima herança teológica da Reforma Protestante. Ela nos ensina a ler as Escrituras de acordo com a sua unidade orgânica e nos prepara, progressivamente, para a consumação final dos eternos propósitos de Deus em Cristo. Neste sentido, ela nos situa no abrangente e profundo plano de Deus de se relacionar conosco, por meio de seu Filho. Por esta razão, as Escrituras, de Gênesis à Apocalipse, revelam aquele que viria, veio e há de voltar, e esclarece qual é o nosso dever como Igreja neste mundo.
Jeremias foi chamado ainda jovem e teve um ministério de mais ou menos quarenta anos. Durante este tempo o Senhor o enviou para exortar Israel e Judá, durante os anos de declínio espiritual daquelas nações (Jr 1:10, 15-16, 31:27-28), advertindo para que voltassem dos seus maus caminhos e guardassem os mandamentos e os estatutos do Senhor (2 Rs 17:13-18). Contudo, não deram ouvidos. Antes, se tornaram obstinadas e não creram, rejeitando a aliança com Deus. Foi nesse cenário que Deus revelou a nova aliança (Jr 31:31-34), planejada antes mesmo da criação (1 Pd 1:18-21; Ap 13:8). Vejamos:
01) Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito... (Jr 31:31-32a). Esta afirmação não significa que Deus faria algo novo, partindo de um ponto “zero,” mas que seria uma aliança distinta das demais quanto a sua natureza. Seria aliança perpétua por meio de Jesus Cristo (Lc 22:20). Deus não se arrependeu das demais, mas em um plano geral cada uma foi uma afirmação profética daquela que viria a ser como a proeminente e reveladora obra da graça de Deus. Portanto, a nova aliança é o ápice de todas. É a expressão unitária do plano de redenção em toda a história da humanidade, mesmo antes da queda, quando do primeiro pecado.
02) ...eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor (Jr 31:32b). Este abandono da aliança não se deu por parte de Deus e sim do homem. Deus permaneceu fiel (Jr 31:35-37), mas o povo deixou de observar e cumprir seus votos (Jr 11:1-8). O desprezo e deslealdade ao Senhor, resultou em transgressão e apostasia, mas a aliança de Deus continuou sendo parte de um plano maior. Por isto ele fez várias alianças ao longo da história até a nova, por meio do Messias, o fiel Mediador, por meio de sua morte física e da oferta de seu sangue na cruz (Mt 26:26-29).
03) Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo (Jr 31:33). Esta nova aliança não seria cumprida por meio de obras, mas por meio da fé. As qualificações dos integrantes dessa aliança, não seriam condicionadas pelos ritos no Templo, mas pelo ato da fé somente, mediante a qual e sem sacrifícios, seriam sustentados pela obra do Espírito Santo em seus corações. O coração era e é o berço da iniquidade humana. Deus prometeu redenção onde verdadeiramente a lei era e é violada.
04) Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor... (Jr 31:34a). A história dos “pactos” de Deus é a história da sua progressiva revelação. O conhecimento de si mesmo é declarado por meio dos pactos e este é um dos principais objetivos de Deus ao estabelecer a aliança pelo Mediador. Os meios desta revelação, especificamente naquela ocasião, são mencionados no texto: “...Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (v. 34b).
Assim, Jesus veio como oferta de sacrifício vivo, para perdoar as iniquidades do seu povo (Mt 1:21; 1 Jo 1:9) e garantir, de modo eficaz, que ele jamais seja separado da aliança de Deus (Rm 8:37-39).
Rev. Ericson Martins
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