O liberalismo teológico surgiu no final do século XVIII e se consolidou no século XIX, especialmente na Europa, como fruto do Iluminismo e do racionalismo. Esse movimento buscou reinterpretar as Escrituras à luz da razão humana e da ciência moderna, minimizando o sobrenatural e tratando a fé cristã como uma experiência moral, e não como revelação divina objetiva. Assim, estimulou a desconfiança nas Escrituras, questionando a sua inspiração, inerrância e infalibilidade, ou seja, a sua autoridade final, abrindo precedentes que corromperam, e ainda corrompem, os fundamentos apostólicos da verdadeira igreja cristã (1Co 3:10-15; Ef 2:19-22).
Nos causa surpresa a recente trajetória de certos pregadores que, antes firmes na doutrina bíblica e comprometidos com a pregação expositiva, acabaram se distanciando em direção ao liberalismo teológico. A história mostra, repetidas vezes, que tal mudança de pensamento e conduta raramente ocorre de forma brusca, mas de maneira gradual, geralmente iniciando com alterações sutis de linguagem, de prioridades e de interpretações bíblicas.
Alguns desses sinais são claros e recorrentes:
O primeiro é a relativização das Escrituras, transferindo a sua autoridade para a experiência subjetiva ou para o consenso cultural. Isso se evidencia nas pregações, quando se tenta acomodar a mensagem literal, imparcial e confrontadora das Escrituras ao desejo, corrompido pelo pecado, de uma audiência que recompensa o pregador com bajulações, estabilidade no cargo e recursos financeiros, desde que receba mensagens motivacionais ou terapêuticas que evitem passagens ou temas considerados “ofensivos”. Não sem razão o apóstolo Pedro advertiu: “... por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” (2Pe 2:2-3).
O segundo é a redefinição de doutrinas centrais. Não se trata, em geral, de negação explícita da divindade de Cristo, de sua expiação ou da ressurreição corporal, mas da minimização do pecado original, da confissão e do arrependimento, da justificação exclusiva pela fé e da necessidade da regeneração. Nesse mesmo sentido, altera-se a compreensão da missão da Igreja, priorizando a prosperidade material e a justiça social e política como núcleo da fé, em detrimento da pregação do Evangelho. Em alguns casos, chega-se a afirmar: “Pregue o Evangelho, se necessário, use palavras”, numa distorção que despreza a proclamação oral da verdade e exalta um moralismo inofensivo.
O terceiro sinal, também em afronta às Escrituras, é o desprezo ou a omissão de parâmetros confessionais como referência doutrinária, a exemplo da Confissão de Westminster e seus Catecismos. Nesse contexto, abrem-se portas para um cenário doutrinário confuso, contraditório e receptivo a movimentos historicamente heréticos dentro das igrejas. Pouco tempo depois, agendas culturais progressistas começam a ser reinterpretadas, aceitas e defendidas em nome de um suposto amor cristão. Assim, padrões de disciplina bíblica contra o pecado são omitidos ou relativizados, seja por conveniência, seja por envolvimento pessoal.
Por fim, e não menos grave, há a mudança nos padrões bíblicos da comunhão cristã. As Escrituras ensinam o cristão a amar seus inimigos, não retribuindo o mal com o mal, e a orar por aqueles que o perseguem (Mt 5:43-48; Rm 12:17-21; 1Pe 3:8-12), e a se compadecer dos que estão na dúvida (Jd 17-23). Contudo, também instruem a resistir às tentações dos que ensinam outro Evangelho (1Tm 6:3-16), a evitar pessoas doutrinariamente facciosas, depois de adverti-las duas vezes (Tt 3:10-11) e a não receber hereges, sob risco de se tornar “cúmplice das suas obras más” (2Jo 1:10-11). O propósito dessas exortações é proteger a comunidade cristã contra ensinos corrompidos. Entretanto, teólogos com tendências liberais consideram tais posições radicais e se envolvem em ecumenismo com religiões liberais, chegando até a participar de sacramentos nelas.
Estejamos atentos a esses alertas, para permanecermos firmemente comprometidos com a sã doutrina em nossas igrejas, proclamando fielmente as Escrituras e afastando aqueles que as menosprezam.
Rev. Ericson Martins
Que o Senhor nos mantenha firmes em sua palavra, até o dia em que Ele nos chamar…
ResponderExcluirLouvo a Deus pela clareza e fidelidade bíblica expressa neste artigo, Rev. Ericson Martins. Em dias em que o relativismo tenta penetrar sorrateiramente nas igrejas, textos como este são verdadeiros marcos de vigilância e amor à verdade do Evangelho. A advertência contra o liberalismo teológico não é um exercício de conservadorismo vazio, mas obediência ao chamado apostólico de “combater diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 1:3).
ResponderExcluirO zelo em apontar as sutis mudanças de linguagem, as distorções doutrinárias e a diluição da autoridade das Escrituras reflete o cuidado pastoral que não apenas alimenta o rebanho, mas também o protege dos lobos. Que o Senhor continue fortalecendo sua vida e ministério, mantendo-o como atalaia fiel (Ez 33:7), para que a igreja de Cristo permaneça firmada no único fundamento verdadeiro — Jesus Cristo, revelado nas Escrituras inspiradas, inerrantes e suficientes.