O chamado do Bom Pastor

 

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10:27)

Uma das metáforas mais comuns na Bíblia sobre o relacionamento de Deus com seu povo é a do pastor e das ovelhas (Gn 49:24; Is 40:9-11). Ao contrário do mercenário, que era contratado para cuidar de um rebanho que não lhe pertencia e não hesitava em abandoná-lo diante de uma ameaça (Jo 10:12), o verdadeiro pastor se dedicava pessoalmente, dia e noite, doando sua própria vida para salvar o seu rebanho (Jo 10:11, 17-18). Ele o guiava às campinas verdejantes para alimentá-lo, aos ribeiros de águas para saciar sua sede, o protegia do sol e, à noite, se arriscava para manter afastados todos os seus astutos predadores (Sl 23:1-4; Sl 121:4-8; Ez 34:13-15). Se uma só ovelha se extraviasse, ele a procurava até encontrá-la, nenhuma era deixada para trás (Jr 23:3; Ez 34:12, 16; Jo 10:16, 28; Lc 15:4-6). Enquanto o verdadeiro pastor estivesse por perto, suas ovelhas seriam bem conduzidas, supridas e seguras (Jo 10:28-29).

Os autores bíblicos utilizaram essas observações para descrever o caráter do amor de Deus e da redenção de Jesus (Jo 3:16 e 6:37) em relação àqueles que lhe pertencem. Deus vigia os seus com particular atenção, supre suas necessidades, os livra do mal e os conduz precisamente a Jesus, o bom pastor (Jo 10:11), para que sejam eterna e seguramente salvos (Jo 10:28). Porém, os benefícios deste relacionamento só estão disponíveis àqueles que ouvem a voz do bom pastor e o seguem.

É claro que a “ovelha” não é salva por tomar alguma iniciativa própria, porque a salvação é somente pela graça divina. Na perspectiva humana, o homem se torna “ovelha” de Deus quando crê, mas na perspectiva dele, o homem que crê, crê porque é “ovelha”. A ênfase do texto é: “eu as conheço”, e é somente por este motivo que suas “ovelhas” ouvem o chamado e seguem os passos do seu pastor.

Este íntimo conhecimento revela a união pré-estabelecida de Cristo com estas “ovelhas” (Jo 10:14-15), antes mesmo de ouvirem sua voz chamando (Jo 10:27) pelo ensino da Palavra de Deus (Jo 17:20; Rm 10:17) e de responderem com fé e arrependimento. Ele conhece cada uma e nenhuma escapa da sua missão na cruz, por isso, nenhuma se perde (Jo 10:28), ao contrário dos que não o ouvem, não creem e não seguem o caminho da obediência porque não são “ovelhas” do bom pastor (Ez 34:22; Jo 10:20, 26). Estes, ele não os conhece (Mt 7:23) no sentido da união espiritual.

A salvação é o princípio de uma nova vida. Aqueles que ouvem Deus chamar são conduzidos por um novo caminho (Hb 10:19-25), no qual devem seguir os passos de Jesus, aprendendo com ele e agindo sob sua influência (Mt 11:28-30). Não importa o tempo de conversão, se é maduro ou não na fé, ser discípulo ou seguidor de Cristo é uma experiência para toda a vida. Aqueles que creem devem consagrar-se ao Supremo Pastor (1Pe 5:4).

O discipulado exige que a Igreja evangelize e assuma a responsabilidade por seus membros, alcançando os perdidos e educando os alcançados. Não é destinado apenas aos “novos na fé”, é para todos os que creem e desejam seguir a Jesus porque, um dia, o ouviram chamar. É uma experiência de aprendizado e santificação. Aqueles que se sentem maduros demais para se submeter ao discipulado, orientados por outra pessoa, estão mal convencidos do ensino bíblico e deveriam considerar que, ao menos, sendo “maduros”, deveriam servir como bons discipuladores na Igreja.

Rev. Ericson Martins

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