COVID-19 e o Salmo 91. Não é beeeem assim não!


No meio de tanta ansiedade e medo na sociedade, em razão da atual pandemia do COVID-19 (Coronavírus), temos percebido o uso de passagens bíblicas em algumas redes sociais, como:

“Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio. Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa... Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia... Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda” (Sl 91:2 e 3, 5 e 6, 10 e 11).

Certamente muitos têm o intuito de transmitir uma mensagem de confiança e paz neste momento, isso é legítimo e necessário!

No entanto, o uso de passagens bíblicas como a do Salmo 91, retirada do contexto bíblico e do autor, e aplicada isoladamente ao atual contexto, causa uma má interpretação do texto e promove uma heresia, a de que os crentes em Cristo estão imunes a epidemias e a sofrimentos causados pelo Coronavírus, inclusive da morte causada por ele.

Seria trágico para a boa consciência cristã tal pensamento, pois este subestima o poder das calamidades, nos torna insensíveis ao sofrimento alheio, a julgarmos levianamente aqueles que enfrentam enfermidades, cria falsas expectativas, furtam a racionalidade da prevenção e dos cuidados médicos, e o pior, produz excessiva confiança do homem em si à parte de Deus, por trás de uma roupagem de piedade.

Com uma linguagem poética, o Salmo 91 chama a atenção para a confiança em Deus, porque Ele é o único refúgio seguro em todas as adversidades e perigos (cf. Sl 27:1-6). O autor (desconhecido) nos lembra da peregrinação dos israelitas pelo deserto, até Canaã. Eles não sobreviveriam aos diversos perigos de deserto e não chegariam ao destino se não estivessem sob a proteção de Deus. Isso não significa que não sofreram diversos males, inclusive mortes (1 Co 10:1-13 cf. Nm 11, 14, 16, 21 e 25). Sendo assim, a referência da promessa não está naquele que sofre, mas no único Deus que possui todo o poder para preservar e livrar, se Ele quiser, aqueles que nEle confiam. Em certo sentido, este Salmo possui perspectivas cristológicas e escatológicas, pois Deus livrará da condenação eterna todos os que creem em Cristo (Rm 7:24-25; 2 Co 1:9-11; 2 Tm 4:18) e confiam na mediação da Sua morte e ressurreição.

As pragas são citadas nas Escrituras no contexto das punições contra os inimigos (Êx 7 a 10), mas também contra Israel, por causa dos seus pecados (Lv 26:23-25; 2 Cr 21:14; Ez 6:1-14). Elas são citadas, portanto, como resposta da justiça de Deus ao pecado, seja contra os ímpios, seja contra os piedosos, exigindo arrependimento (Ap 2:1-7). No caso dos crentes, têm caráter disciplinar (Hb 12:4-11), enquanto aos demais, de punições preliminares daquelas que lhes estão reservadas após a morte.

Pragas e pestes foram previstas (Jr 28:8), especialmente como sinais de que o final dos tempos está próximo (Lc 21:10), portanto, não deveríamos ficar surpresos ou entrarmos em pânico, em meio às tribulações do presente, como se estivéssemos desamparados do favor Divino e da promessa de retorno do Seu Filho. Como previsto (Is 42, 49, 50, 52 e 53), Jesus sofreu (At 26:22-23 cf. 3:18, 21, 24, 17:2–3; 1 Pd 1:10-11), antecipou que nenhum dos Seus seguidores estaria livre de sofrimentos (Mc 8:34) e, para além deles, o apóstolo Pedro fortaleceu a confiança nas promessas (1 Pd 5:10).

A Igreja, enquanto neste mundo, está sujeita a muitas tribulações, inclusive a epidemias, mas o seu consolo está na promessa que diz: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia,... Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8:35-37). Ele nunca deixará de amar o Seu povo, nada e ninguém poderá impedi-Lo nesse propósito e, mesmo em tribulações e angústias, podemos ser amparados por esta certeza e esperança!

Que pelas Escrituras percebamos os sinais do fim e, no meio de todos eles, confessemos: “Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio”, esperando pelo livramento completo das nossas almas, no Dia do Senhor.

Pr. Ericson Martins

2 comentários:

  1. Amém!Fé com responsabilidade,prudência e assertividade na vida Cristã. ótima reflexão para este momento, gratidão.

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  2. Ótima reflexão, Pastor. Amém por isso!

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