Por que desejamos tanto a paz, mas, ao mesmo tempo, temos tanta dificuldade em lidar com ela quando chega?
Essa contradição revela a complexidade do coração humano: desejamos a harmonia, mas somos constantemente lembrados de nossas limitações, de nossas feridas e da presença do pecado em nós e ao nosso redor.
O homem vive em guerra
No princípio, o homem entrou em conflito com o seu Criador e, desde então, passou a ofender as pessoas mais próximas. Primeiro ofendeu a mulher, depois um irmão ao outro. Ainda hoje é assim.
O pecado é a causa de todos os conflitos de relacionamento. O coração tornou-se sede de inveja, ciúme, vingança, descontentamento, rivalidade etc.
Mesmo quando o ambiente está em paz, o homem continua em guerra consigo mesmo e, sobretudo, com Deus. Portanto, nem todo conflito é resultado apenas de nossas ações, mas também do pecado presente no coração de outros.
Interpretação confusa
Em geral, a paz promove estabilidade nas rotinas, solução diligente das dificuldades, convivência harmoniosa e ausência de crises graves nos relacionamentos.
Infelizmente, aquilo que é tão desejado pode ser, por muitos, mal interpretado como acomodação, perda de paixão, desmotivação ou falta de interesse pelo crescimento.
Essas interpretações encontram respaldo em mentes inquietas, que não suportam a paz, mas que também não sabem conviver com a paz alheia. Assim, perturbam todos ao seu redor, pois a “guerra” exterior revela o próprio estado interior diante de Deus e dos homens.
O que fazer?
A sabedoria divina oferece diversas orientações práticas. Somente em Romanos 12:9-21, encontramos muitas exortações, entre elas a de pagar o mal com o bem.
Naquilo que depende de nós, devemos agir sem expectativa de retorno. Quanto ao mais, precisamos aprender três lições:
a) Na vida cristã, não somos capazes de satisfazer todas as expectativas que os outros criam a nosso respeito, exigindo que sejamos e ofereçamos o que desejam. Cada um se encontra em diferentes estágios do caminho da santificação. Por isso, nem toda crítica recebida é acompanhada de misericórdia e respeito por nossa humanidade, identidade, individualidade e vocação. Logo, não merece nossa atenção.
b) Na vida cristã, existem responsabilidades pessoais e coletivas. As coletivas são compartilhadas, mas as pessoais são intransferíveis. Nesse sentido, não carregamos a culpa pela intransigência, imaturidade, ingratidão ou antipatia dos outros contra nós. Cada um está diante de Deus e cada um haverá de prestar contas.
c) Na vida cristã, somos moldados por meio de muitas dificuldades, em razão da nossa própria natureza pecaminosa. Porém, mudar os outros é tarefa ainda mais difícil, em alguns casos até impossível. Por isso, antes de nos angustiar com o mal que sofremos, devemos nos preocupar em tratar o mal que nós mesmos praticamos, buscando no Espírito vigor para crescer na fé, na santificação e no caráter que nos identifica com Cristo.
Viver em paz é um exercício diário de humildade e vigilância, lembrando que cada desafio é oportunidade de crescimento. Não se trata apenas de evitar conflitos, mas de cultivar no coração atitudes de perdão, compreensão, respeito e amor pelas pessoas com as quais convivemos. A paz verdadeira se constrói quando aprendemos a confiar em Deus, nos submetendo ao Espírito Santo para transformar o nosso caráter, fortalecer a nossa fé e nos conduzi a seguir os passos de Jesus nos relacionamentos.
Rev. Ericson Martins
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