Em tempos em que a balança da justiça pesa mais para a conveniência e a vingança pessoais do que para a imparcialidade do direito; em que o livre pensamento sofre crescentes restrições por meio de ameaças, chantagens ou retaliações, intimidando a independência opinativa nos fóruns decisórios; e em que tantos agentes políticos, eleitos pela sociedade, demonstram um compromisso cada vez maior com o corporativismo de interesses privados, a desesperança por um futuro mais civilizado aumenta.
Essa desesperança se intensifica porque grande parte da sociedade se divide entre espectros políticos de direita, centro e esquerda, cada qual defendendo, com paixão, seus protagonistas, como se essas lutas intermináveis de classes fossem a solução para se estabelecer a paz.
A política e suas ideologias não podem ser desprezadas. Elas merecem nossa atenção e participação ativa nas discussões, manifestações e no exercício responsável do voto, para que os eleitos sejam os mais notáveis em integridade e competência tanto legislativa quanto administrativa. Toda a sociedade necessita de representantes nos três poderes da República que cumpram, com máxima seriedade, o compromisso com o interesse público.
Dito isso, seria não apenas lamentável, mas arruinador substituir credos bíblicos por credos políticos, pois é na Bíblia que se encontra a verdadeira esperança dos cristãos. Os governos passam, mas o de Cristo jamais passará. Enquanto os governos humanos se limitam às esperanças deste mundo, o de Cristo se estende à eternidade.
As doutrinas políticas, por natureza, dividem opiniões dentro de uma democracia. Mais do que em tempos passados, elas têm sido causa de divergências nos relacionamentos, extrapolando simples diferenças de perspectiva para debates acirrados e ofensas que prejudicam laços familiares e, inclusive, a unidade dentro das igrejas.
Definitivamente, as ideologias políticas nunca formaram a identidade dos crentes como uma só Igreja e, portanto, jamais deveriam ser motivo para preconceitos ou discriminações entre aqueles que, antes de tudo, foram unidos pelo único sacrifício expiatório de Jesus Cristo (Ef 2:11-22, 3:4-6).
Os cristãos, unidos pelos mesmos fundamentos bíblicos da fé (Ef 4:1-6), não devem permitir que o desordenamento moral e filosófico de uma sociedade incrédula condicione sua disposição de amar uns aos outros e de manter a comunhão em torno do que é mais importante e eterno. Seu vigor deve ser ainda maior para permanecerem "firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica" (Fl 1:27).
Rev. Ericson Martins
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