A repetida frase “as crianças são o futuro da Igreja” parece bem-intencionada, mas esconde um sério conflito: ao projetar seu valor e importância funcional somente no futuro, nega-se a sua relevância no presente. O Salmo 8:2 confronta diretamente esse pensamento ao afirmar que o próprio Deus suscita força da boca dos pequeninos, e isso por um propósito: silenciar inimigos e vingar a justiça.
Não se trata aqui de uma metáfora, mas de uma realidade. Crianças que louvam a Deus, que oram, que aprendem a Palavra de Deus, não estão em fase de espera, mas em pleno exercício espiritual, de modo que Deus revela nelas força teológica e escatológica, relacionada ao seu reino (Mt 19:14).
Nessa lógica, na aparente fragilidade humana, Deus manifesta sua força (2Co 12:9), e isso inclui a infância, o culto das crianças, suas orações, sua comunhão e seu serviço.
Precisamos entender e afirmar que elas não são apenas “a esperança de amanhã”, mas instrumentos de Deus hoje, como afirmou Joel Beeke: “As crianças da aliança são membros do corpo de Cristo desde a infância, não porque sejam inocentes, mas porque pertencem à comunidade do pacto e devem ser instruídas no temor do Senhor desde os primeiros anos” [1]
Reconhecer as crianças como membros ativos do corpo de Cristo é mais do que pedagógico, é cristocêntrico, porque são parte por meio da aliança dos pais crentes (1Co 7:14) e, como tal, devem ser acolhidas, discipuladas e integradas.
A família, a Igreja e seus líderes que as consideram como apenas “o futuro” correm o risco de subestimar e negligenciar o cuidado a um dos mais belos meios pelos quais Deus revela a sua glória hoje!
Rev. Ericson Martins
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[1] BEEKE, Joel R. Parenting by God’s Promises: How to Raise Children in the Covenant of Grace. Orlando: Reformation Trust, 2011, p. 37.
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