A exegese bíblica é indispensável para a pregação expositiva fiel e para a preservação da teologia reformada. Sem um método sólido de interpretação, pregadores se veem pressionados a projetar suas próprias ideias sobre o texto bíblico e o resultado é sempre a inconsistência, incoerência e imprudência teológica na pregação.
A Palavra de Deus não é um campo aberto para especulações, mas um solo sagrado que exige reverência e fidelidade. Interpretá-la corretamente requer mais do que habilidade; exige humildade e submissão.
Todo pregador deve reconhecer isso e temer o fato de que o texto bíblico fala por si, que seu sentido emerge do próprio contexto e que cada linha carrega a inspiração do Espírito Santo.
Por essas razões, é indispensável a disciplina exegética do texto bíblico, para que anunciemos a verdade infalível, inerrante e suficiente, bem como o poder autoritativo de Deus para resgatar e santificar o seu povo do pecado.
Essa disciplina é exaustiva, e a responsabilidade de pregar é grande, mas o benefício expõe a profundidade da mensagem e da glória de Deus, que se revela pelas Escrituras.
Aqui compartilho alguns dos fundamentos que garantem uma interpretação segura e cristocêntrica da Palavra de Deus.
Princípio 1: Sola Scriptura
Princípio: A Escritura interpreta a própria Escritura. Nenhum texto é interpretado isoladamente da totalidade da Escritura.
Aplicação prática: Ao interpretar João 10:35 (“a Escritura não pode falhar”), correlacione com 2 Timóteo 3:16 (“Toda Escritura é inspirada por Deus”). Assim, confirmamos que a autoridade bíblica é interna e autossuficiente.
Princípio 2: Contexto imediato e amplo
Princípio: A análise deve respeitar o fluxo argumentativo do texto e seu contexto literário e canônico.
Aplicação prática: Em Filipenses 4:13 (“tudo posso naquele que me fortalece”), uma leitura isolada pode levar à interpretação triunfalista falsa, pois, considerando o contexto (Fp 4:11-12), percebe-se que Paulo refere-se à suficiência em meio à escassez e ao sofrimento.
Princípio 3: Análise gramatical e literária
Princípio: O significado do texto emerge da consideração de sua gramática e do gênero literário.
Aplicação prática: No Salmo 23:1 (“O Senhor é o meu pastor”), a forma poética indica uma metáfora pastoral sobre cuidado e provisão, e não uma descrição literal da função de Deus como pastor físico.
Princípio 4: Referência histórica e cultural
Princípio: A interpretação deve considerar os costumes, valores e contexto sociopolítico da época.
Aplicação prática: Em Lucas 10:30-37, a parábola do Bom Samaritano adquire profundidade ao sabermos que os samaritanos eram desprezados pelos judeus, intensificando a lição sobre amor ao próximo sem barreiras étnicas e culturais.
Princípio 5: Cristocentricidade
Princípio: Toda a Escritura, direta ou indiretamente, aponta para Cristo como centro da história da redenção.
Aplicação prática: Isaías 53:5 (“Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões…”) é interpretado profeticamente à luz do Novo Testamento, que identifica Jesus como o Servo Sofredor que cumpre essa promessa (At 8:32-35).
Que sejamos intérpretes e pregadores fiéis, submissos e guiados pelo Espírito!
Rev. Ericson Martins
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