Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra. O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé. (At 6:1-7)
I. PRINCÍPIO DA ORGANIZAÇÃO
No início do livro de Atos lemos que Jesus, antes de subir aos céus, determinou que os discípulos fossem à Jerusalém e aguardassem o cumprimento de uma promessa (At 1:4-5). Ao descer sobre eles o poder do Espírito Santo, seriam testemunhas de Jesus em toda parte (At 1:8). Em obediência, eles foram à Jerusalém e perseveraram em oração:
- - Os 11 discípulos + mulheres + Maria + os irmãos de Jesus (At 1:13-14)
- - Naquele contexto havia uma assembléia de 120 pessoas (At 1:15)
Ao cumprir-se o dia Pentecostes, quando estavam reunidos, o Espírito Santo encheu todos eles (At 2:4) e passaram a falar das grandezas de Deus (At 2:11), em muitos idiomas (At 2:8-11). Essa experiência foi alvo do ceticismo de alguns judeus que levantaram falsas acusações contra os discípulos. Pedro, então, levantou-se e fez um discurso em defesa do ocorrido, exortando-os pela incredulidade a cerca de Jesus. Ao ouvirem...
- - Quase 3.000 pessoas se arrependeram e foram batizadas (At 2:41).
E com a continuidade do testemunho de Jesus, pelos apóstolos, o número de crentes continuou crescendo:
- - O Senhor acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos (At 2:47)
- - O número de homens subiu para 5.000, dos que aceitavam a palavra (At 4:4)
- - Crescia mais e mais a multidão de crentes (At 5:14)
- - Se multiplicava o número de discípulos (6:1)
- - Se multiplicava, inclusive, muitíssimos sacerdotes na fé (At 6:7)
- - A igreja crescia em número (At 9:1)
- - Etc
A Igreja da nova aliança, sob a ação do Espírito Santo, crescia expressivamente naqueles dias. Estudos exaustivos indicam que nesse contexto, havia cerca de 20 a 35 mil pessoas vivendo em Jerusalém. Isso nos ajuda a entender o índice demográfico de crentes em Jerusalém e como rapidamente cresceu.
O texto de Atos 6:1-7 indica uma nova fase no desenvolvimento da igreja do Novo Testamento. Até ali, os apóstolos tinham a responsabilidade de:
- - Dar testemunho acerca de Jesus;
- - Ensinar a doutrina, combater as especulações e falsos testemunhos;
- - Mas também, receber doações e distribuí-las com justiça para socorrerem as necessidades dos pobres.
Devido ao rápido crescimento da Igreja, os apóstolos começaram a ser pressionados pelas demandas sociais do povo (At 6:1).
O início da organização da igreja indicou as principais funções das lideranças que foram destacadas:
Quanto aos apóstolos:
1. Dedicação na palavra de Deus: “Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus para servirmos às mesas” (At 6:2), “quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra” (At 6:4);
2. Organização da igreja: “escolhei dentre vós sete homens... aos quais encarregaremos deste serviço” (At 6:3);
3. Autoridade, governo: “Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos” (At 6:6).
Quanto aos diáconos:
“Servir as mesas”
1. Uma referência à ordem na igreja: “as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária” (At 6:1), “aos quais encarregaremos deste serviço” (At 6:3);
2. Uma referência à assistência de necessitados (At 6:1-3).
Obs: O diaconato surgiu para permitir que os apóstolos se concentrassem na esfera espiritual da igreja. Posteriormente, os apóstolos orientaram a eleição de presbíteros (gr. presbíteros, epíscopos, bispos), que seriam os encarregados diretos pelo ensino da palavra de Deus e pelo governo na Igreja.
II. COMO OS HOMENS SE TORNAM OFICIAIS DA IGREJA?
1. Desejo
A Bíblia diz: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (1 Tm 3:1; v. 8: “semelhantemente, quanto aos diáconos”). Então, o primeiro passo para o presbiterato/diaconato é o desejo por isso. O desejo para ser um oficial na igreja não é pecado ou mera autopromoção, mas pode ser o resultado de uma intervenção do Espírito Santo no curso de determinados homens dentro da igreja.
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.” (At 20:28)
Em última análise, um homem se torna um presbítero ou diácono porque o Espírito de Deus cria nele um grande amor pelas pessoas, a ponto de sentir uma compulsão para pastorear e servir o povo do Senhor. Sem um profundo desejo e vontade por isso, nenhum homem pode ou deve ser um oficial na igreja. O oficialato só pode ser assumido por homens verdadeiramente vocacionados por Deus, não pelos atrativos da evidência e do “poder” na igreja.
2. Qualificação
O Novo Testamento é perfeitamente claro e positivamente enfático ao dizer que somente homens biblicamente qualificados podem ser indicados ao oficialato. Além do desejo, a Bíblia exige que os candidatos sejam encontrados por qualificações objetivas (1 Tm 3:1-7; Tt 1:5-9).
Tais qualificações exigidas, pela Bíblia, dos candidatos, protegem o rebanho de Deus de homens impulsionados pela autopromoção, posições de influência e egoísmo, os quais negligenciariam o pastoreio e assistência, e envergonhariam o propósito bíblico do oficialato na Igreja.
Um homem desqualificado biblicamente, ocupando uma posição liderança, inevitavelmente, gera prejuízos à Igreja. E Deus, em sua graça, fornece claras e amplas instruções em sua Palavra quanto aos aspectos espirituais, morais e familiares daqueles que podem ser indicados e eleitos para o oficialato na Igreja:
2.1 Quanto a Deus:
- - Apegados à palavra fiel (1 Tm 3:9; Tt 1:9)
- - Justos e piedosos (Tt 1:8)
- - Aptos para ensinar (1 Tm 3:2, 5:17; Tt 1:9)
- - Irrepreensíveis (1 Tm 3:2 e 9; Tt 1:6)
- - Não sejam neófitos (1 Tm 3:6) = Experimentados (1 Tm 3:10)
2.2 Quanto aos outros:
- - De uma só palavra (1 Tm 3:8)
- - Respeitáveis (1 Tm 3:2 e 8)
- - Hospitaleiros (1 Tm 3:2; Tt 1:8)
- - Inimigos de contendas (1 Tm 3:3)
- - Amigos do bem (Tt 1:8)
- - Não violentos, porém cordatos (1 Tm 3:3; Tt 1:7)
- - Tenham bom testemunho dos de fora (1 Tm 3:7)
- - Não arrogantes (Tt 1:7)
- - Não cobiçosos de sórdida ganância (1 Tm 3:8; Tt 1:7)
2.3 Em relação a si mesmos
- - Quem tenham domínio de si (Tt 1:8)
- - Temperantes (1 Tm 3: 2 e 8)
- - Não avarentos (1 Tm 3:3)
- - Sóbrios (1 Tm 3:2; Tt 1:8)
- - Não irascíveis (Tt 1:7)
- - Não dados ao vinho (1 Tm 3:3 e 8; Tt 1:7)
2.4 Em relação à família
- - Esposos de uma só mulher (1 Tm 3:2 e 12; Tt 1:6)
- - Que governa bem a própria casa (1 Tm 3:4 e 12; Tt 1:6)
- - Que tenham filhos obedientes (1 Tm 3:4-5, 12; Tt 1:6)
3. Exame
Deus requer do presbítero/diácono uma tarefa muito séria, por esse motivo, ele deve ser alguém que se destaca, não pelo seu status social na igreja, devido à sua graduação acadêmica, financeira, material ou histórica, mas de caráter e espiritualidade. Nesse sentido, examinar os candidatos ao presbiterato, é uma tarefa necessária à Igreja!
“Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato” (1 Tm 3:10)
O texto de 1 Timóteo 5:22-25 nos ensina que a avaliação humana, quanto ao caráter e ações, é necessária para evitar que pessoas erradas ocupem em posições de responsabilidade na liderança da igreja.
Os presbíteros e diáconos, como oficiais na igreja, naturalmente necessitam ser avaliados quanto ao desejo e qualificações para as funções indicadas. Precisam ser receptivos à todos os membros da igreja que necessitarem fazer perguntas ou solucionar dúvidas, a fim de aprovarem ou não o candidato em ocasião oportuna.
Um dos melhores exames que a igreja local pode fazer é:
- - designar pequenas tarefas para saber como lidará com elas;
- - verificar se, além da espiritualidade e caráter, é alguém que se importa com os santos e, portanto, já investe a sua vida no zelo e ensino da doutrina, nas visitas, no aconselhamento, na liderança e na sujeição ao governo da igreja (candidatos ao presbiterato), nas visitas aos enfermos, idosos, órfãos e viúvas, na prontidão para assistir os necessitados, na dedicação pela manutenção da ordem dos cultos e questões administrativas da igreja sob a supervisão dos presbíteros (candidatos ao diaconato).
A igreja local não pode ser ingênua o bastante para pensar que se não dedicam as suas vidas à essas funções antes de serem eleitos, se dedicarão depois de eleitos, visto que homens vocacionados por Deus para o oficialato, provam que são habilitados por Ele nessas funções antes de assumirem quaisquer cargos oficiais, designados pela Assembléia que se reúne para esse fim.
III. O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO DA IPB?
A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) é uma igreja organizada sob a orientação de determinados documentos, os quais regem a doutrina, a liturgia e o governo.
Todos os oficiais, antes da eleição, necessitam ser perfeitamente conscientizados desses documentos, pois deverão sujeição às orientações contidas neles, serão exigidos em suas funções de acordo com o que eles prescrevem e avaliados pela igreja local com base neles. Por esse motivo, é importantíssimo tomar conhecimento dos artigos, na Constituição da IPB, que tratam diretamente dos dois ofícios na igreja local:
Presbíteros:
Art. 50 - O Presbítero regente é o representante imediato do povo, por este eleito e ordenado pelo Conselho, para, juntamente com o pastor, exercer o governo e a disciplina e zelar pelos interesses da igreja a que pertencer, bem como pelos de toda a comunidade, quando para isso eleito ou designado.
Art. 51 - Compete ao Presbítero:
a) levar ao conhecimento do Conselho as faltas que não puder corrigir por meio de admoestações particulares;
b) auxiliar o pastor no trabalho de vistas;
c) instruir os neófitos, consolar os aflitos e cuidar da infância e da juventude;
d) orar com os crentes e por eles;
e) informar o pastor dos casos de doenças e aflições;
f) distribuir os elementos da Santa Ceia;
g) tomar parte na ordenação de ministros e oficiais;
h) representar o Conselho no Presbitério, este no Sínodo e no Supremo Concílio.
Diáconos:
Art. 53 - O diácono é o oficial eleito pela igreja e ordenado pelo Conselho, para, sob a supervisão deste, dedicar-se especialmente:
a) à arrecadação de ofertas para fins piedosos:
b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;
c) à manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao serviço divino;
d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de Deus e suas dependências.
Presbíteros e Diáconos:
Art. 55 - O presbítero e o diácono devem ser assíduos e pontuais no cumprimento de seus deveres, irrepreensíveis na moral, sãos na fé, prudentes no agir, discretos no falar e exemplos de santidade na vida.
IV. COMO A IGREJA DEVE TRATAR ESSE ASSUNTO?
1. Conferir quais são as responsabilidades do presbítero e do diácono. A Bíblia nos fala sobre isso:
Presbíteros
Administrativos (1 Tm 1:7; 1 Pd 5:2-3)
Pastorais (At 20:28; 1 Pd 5:2)
Educacionais (1 Tm 3:2; Tt 1:7)
Oficiativos (Tg 5:14)
Representativos (At 20:17-31)
Diáconos
Socorrer os pobres da igreja local (At 6:1 e 3)
Manter a ordem das atividades da igreja (At 6:3 cf. 6:1)
Gerir doações e recursos financeiros para esse fim (1 Tm 3:8)
2. Deve realizar um exame cuidadoso para verificar se a vida do candidato confere com as qualificações exigidas por Deus, pela Bíblia;
3. Indicar aqueles nomes que, uma vez eleitos em assembléia, seguramente, serão responsáveis em suas funções, com base nas qualificações bíblicas e no testemunho diante da comunidade.
Vídeo no YouTube:
Rev. Ericson Martins
ericsonmartins@me.com
Ótima explicação.Parabéns.
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