Não é difícil contemplar os rumos para os quais o evangelicalismo brasileiro tem se voltado, sem nos sentirmos preocupados. Tem sido vergonhosamente triste ouvir notícias sobre a atuação de algumas lideranças, ditas evangélicas, envolvidas em escândalos financeiros. Outrossim, assusta-nos a frouxidão da ortodoxia doutrinária, com desvios notórios em igrejas que propagam sermões para agradar ao gosto dos ouvintes, e não para fazê-los entender que é preciso levar a sério o temor do Senhor. A falta desse entendimento é a principal causa para os problemas que nos atingem, e que conduz igrejas a cair em pecado, cometer escândalos de vários tipos, levando a membresia a desilusão e frustração, desistindo até mesmo de congregar.
Há muito se fala sobre a necessidade de uma nova reforma, que inclua: o retorno à suficiência das Escrituras e da obra de Cristo; e uma mudança na ética da relação da Igreja para com os padrões que regem o mundo, de modo a torná-los mais elevados, espelhando a moralidade de Cristo e não a dos homens.
No próximo 31 de outubro comemoramos, como Igreja em todo o mundo evangélico, o “Dia da Reforma Protestante,” por seus anos de história, desde 1517. Essa data relembra o dia em que o monge agostiniano, Martinho Lutero, protestou publicamente contra as condutas institucionais e dogmáticas da Igreja Católica da sua época, ao fixar 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg (Alemanha). Naquele contexto, Lutero denunciou a corrupção generalizada do clero, a infalibilidade papal e a venda das indulgências com a primeira tese, comentando as palavras de Jesus em Mateus 4:17: “Ao dizer: ‘Arrependei-vos,’ o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse de arrependimento.” Para ele nenhuma reforma ocorreria e nenhum avivamento seria experimentado sem arrependimento!
Sem o temor do Senhor igrejas abrem mão de princípios inegociáveis para se tornar mais atraentes ao pecador; homens reivindicam equivocadamente a autoridade apostólica em busca de exaltação na hierarquia do poder eclesiástico e recursos financeiros são explorados ilicitamente através dos discursos de medo, da culpa e das expectativas em falsas promessas. Lutero viveu em um contexto assim. Porém, não podendo mais conter a indignação que crescia em seu coração, tomou para si a primeira resolução, ao protestar contra a mentira e o engano. E assim, se tornou um agente de reflexão e transformação, das imoralidades que permeavam a fé e a conduta cristã dos seus dias, baseado tão somente nas Escrituras.
Diante desse exemplo, o Dia da Reforma Protestante deveria ser comemorado resgatando o testemunho de Lutero e de outros reformadores do século XVI, a saber: o compromisso de nos pautar na suficiência da Palavra de Deus e da obra de Cristo, arrependendo-nos e chamando todos ao arrependimento diante de Deus. Com isto, pela graça de Deus, cada um de nós será um agente de mudança dessa conduta negligente e, como Corpo, faremos a diferença que a sociedade tanto precisa.
Rev. Ericson Martins
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