Recebemos um e-mail de um rapaz com dúvidas a respeito da cremação. Ele disse ter procurado algumas pessoas, as quais afirmaram que essa prática é proibida aos crentes, por ser considerada pagã e por comprometer a ressurreição.
Nesta breve reflexão, pretendemos compartilhar nossa compreensão, baseada na Bíblia, sobre o assunto.
Existem diversas leis cerimoniais do Antigo Testamento relacionadas a cadáveres (Lv 21; Nm 19), mas não há qualquer instrução específica sobre o que fazer com eles. Além disso, não encontramos nenhuma permissão ou proibição claramente expressa na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, quanto à prática da cremação. Precisamos ter cuidado para não permitir o que a Bíblia não permite, mas também para não condenar o que ela não condena claramente.
Apesar de a Bíblia relatar alguns casos de cremação, como o de Saul e seus filhos, cujos corpos foram queimados e sepultados em seguida (1 Sm 31:8-12; 2 Sm 21:12-14), e o de Acã e sua família (Js 7:24-25), esses relatos não são apresentados como normas, mas apenas como registros históricos.
A palavra “cremação” não existe na Bíblia, mas, como seu significado é “incinerar”, conforme os dicionários, esse conceito pode ser aplicado aos casos mencionados. No entanto, não podemos estabelecer uma doutrina a partir desses contextos, pois estaríamos cometendo um erro hermenêutico.
O que notamos, de modo geral, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é que o sepultamento do corpo sempre foi a prática padrão, e não a cremação. Como exemplo, temos, no Antigo Testamento, Moisés, que foi sepultado por Deus em um vale na terra de Moabe (Dt 34:7), e, no Novo Testamento, Jesus, que, após sua morte, foi sepultado no túmulo de José de Arimateia (Mt 27:59-60).
Nosso posicionamento pode não estar em conformidade com o senso comum cristão; no entanto, acreditamos que essa questão se trata mais de uma orientação cultural do que de uma norma bíblica. Além disso, entendemos que nenhum dos métodos de destinação do corpo, seja o sepultamento ou a cremação, alterará a promessa da ressurreição (1 Co 15:50-58).
Sinceramente, as razões apresentadas para proibir a cremação são biblicamente incoerentes:
01) Porque a promessa da ressurreição não depende daquilo que fazemos com o corpo, mas do fato de Cristo ter sido ressuscitado, “sendo ele as primícias dos que dormem” (1 Co 15:12-23);
02) Porque o sepultamento também é um costume originalmente pagão, não havendo, nesse aspecto, diferença em relação à cremação. Nenhum dos dois impede a decomposição do corpo, nem representa qualquer dificuldade para que Deus, soberanamente, cumpra sua promessa;
03) Porque as justificativas apresentadas são mais baseadas em opiniões pessoais e especulativas do que em argumentos bíblicos.
Por isso, sempre afirmamos: precisamos mais da Bíblia e menos de especulações humanas para encontrarmos as respostas de Deus para as questões da vida.
Rev. Ericson Martins
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