“De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um
dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João
ensinou aos seus discípulos” Lucas 11:1
Os
rabinos tinham a prática de escrever suas orações para fins pedagógicos e
piedosos. Eles temiam orar indisciplinadamente, também omitir na oração alguma
necessidade essencial além de serem incapazes de ensinar outros. João
certamente teve a mesma preocupação com seus discípulos (v.1). Admirados pela
experiência de Jesus na oração e ávidos por esta que era uma força vital para
Ele, os discípulos suplicaram: “ensina-nos
a orar”. Ele então responde ao lhes ensinar o que se tornou conhecida como
a “Oração do Pai Nosso” (vv.2-4) para fixar os princípios que cercam a prática
da oração, dentre os quais apresentarei dois considerando a “Parábola do Amigo
Importuno” (vv.5-8) e sua própria aplicação (vv.9-13):
01. Oração é uma relação íntima entre o pobre
e o Rico. A oração que Jesus lhes ensina (vv.2-4) é tão curta quanto
profunda pelo aspecto da comunhão com Deus. Calvino disse que “a oração não é
nada mais que a expansão do nosso coração na presença de Deus... uma espécie de
conversa entre homens e Deus, pela qual eles entram no santuário celestial e
pessoalmente se dirigem pela força das Suas promessas” [1]. Além da
estrutura metodológica que muitos utilizam para interpretar a Oração do Pai
Nosso, antes de tudo ela demonstra a relação do pobre para com o rico. Nela se
destaca quatro pedidos a quem pode atendê-los – o Pai celestial (vv.2 e 13): “venha o teu reino”, “o pão nosso cotidiano dá-nos”, “perdoa-nos” e “não nos deixes cair em tentação”. Ora, quem poderia fazer tais
pedidos senão aquele que carece deles? A oração é o princípio que conecta o
pobre em toda a sua pobreza ao Rico em toda a sua riqueza. Orar é um ato
simples (vv.9-13) na contramão do exibicionismo (Lc. 18:10-14), deposto de barganhas,
desmistificado de ladainhas e mandingas por aquele em cuja alma reconhece sua própria
pobreza e incapacidade de dar um passo à frente sem que antes seja nutrido pelo
Pai celestial. Segundo Calvino “oração é um dos frutos da penitência que Deus
despertou em nós” [2].
02. A oração é a santa insistência
de quem se importa pelo o que pede.
O ensino de Jesus sobre oração envolveu a Parábola do Amigo Importuno (vv.5-8).
A história trata de um homem que recebeu um amigo de viagem, não tendo o que
oferecer foi “à meia noite” a um
vizinho amigo pedir-lhe três pães, o qual se irritou pelo sono interrompido e
não se levantou. Mas com a insistência do homem que lhe batia à porta importunamente
acabou se levantando e deu o que o homem pedia. Logo após esta Parábola o verso
9 inicia: “Por isso [gr. kἀγὼ = καί + ἐγώ: “e eu”], vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á...”. Ao interpretar esta Parábola devemos
cuidar para não gerarmos um desvio doutrinário: a) Deus não é importunado por
nossos pedidos persistentes – o vizinho importunado não representa Deus na
Parábola. b) A resposta de uma oração não se recebe unicamente pela insistência.
c) Se homem, sendo mau (v.13), se dispõe ser ‘importuno’ e ‘importunado’ o
outro atende a favor de uma terceira pessoa, o “Pai” nosso, sendo bom, está
muito mais disposto para atender as necessidades dos Seus filhos (vv.11-13). Considerando
isto: d) Não devemos desanimar de orar, pois às vezes a resposta de uma oração
vem logo, mas por outras depois da sua persistência. e) Pelo interesse do que
se pede, a oração precisa ser sincera ao ponto de a necessidade suprida do
outro ser a nossa necessidade. Isto é intercessão: atender um amigo necessitado,
e ainda ser importuno a seu favor. Sendo assim não oramos de nós para conosco
mesmos como os fariseus (Lc. 18:11) porque orar também é amar o próximo como a
nós mesmos. Entendeu? Então vamos orar!
Com amor,
Ericson
Martins
contato@brmail.info
[1]
e [2]: NIESEL, Wilhelm. The Theology of
Calvin. Philadelphia: The Westminster Press, 1956.
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